PESQUISA PLÁSTICA-TEXTOS 2007

PESQUISA PLÁSTICA

ilustração: Adriana Ramalho


Introdução

Em meados de 2007, comecei o processo de criação e desenvolvimento de projetos de vídeo-instalação baseados na pesquisa plástica de paisagens, resultantes da observação da influência do meio ambiente sobre o indivíduo. Nesses projetos, busco potencializar detalhes de paisagens comuns ampliando detalhes de imagens em projeções de escala arquitetônica, elaborando ambientes artificiais construídos com “vídeo olhares”.

Ao longo da pesquisa tomei como ponto referencial textos de Yi-fu Tuan do livro “Topofilia”, que me permitiram refletir sobre o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico. “Arte e Mídia”, de Arlindo Machado, tem especial importância no desenvolvimento do meu trabalho criativo, estudos e pesquisa, pois possibilitou uma reflexão ampliada sobre o uso de mídias tecnológicas em meu trabalho plástico. O livro mostra, de forma simples e completa, uma visão geral sobre o uso das novas mídias na arte e como isso se desenvolveu. Desde como a inserção dessas mídias na arte se deu de maneira experimental, até o avanço tecnológico, que foi aproveitado de forma equivocada, pois sem o tempo suficiente de amadurecer o domínio de um meio ou técnica, os novos produtos tornaram-se mais superficiais.


Também são fundamentais para esta pesquisa o texto de Laymert Garcia sobre paisagens artificiais, onde o autor explana sobre o olhar poético e artístico mediado pelas novas tecnologias, e o texto “Vídeo e Água” de Hugo Fortes, que possibilitou diferentes “leituras” e reflexões sobre essa relação entre o vídeo e a água, além de obter novas referências artísticas para minha pesquisa plástica.


Paisagem Afluente


No começo da reflexão sobre meu trabalho, meus interesses estavam diretamente ligados a mostrar a grande diferença social e ambiental entre Manaus e São Paulo, com conteúdos baseados nas experiências da vivência pessoal nessas duas cidades. Deixei a discussão social de lado e resolvi pensar apenas sobre o ambiente e a paisagem. Posteriormente, percebi que falar de ambientes antagônicos não era mostrar simplesmente minha vivência nesses lugares, mas sim entender a relação das pessoas com o meio em que elas vivem, observando a dificuldade do homem em lidar com o ambiente natural no meio do desenvolvimento urbano e tecnológico. Em seguida, buscar a melhor forma de expressar meus pensamentos sobre a paisagem dessas cidades.


As diferenças entre Manaus e São Paulo são inúmeras. Eu especificava claramente que minha discussão era sobre a dissemelhança entre essas duas cidades. Por um lado, mostrava a paisagem “romântica” de Manaus e a sua proximidade com a natureza selvagem, ocultando suas características de cidade grande e industrial. Por outro lado, mostrava a paisagem arquitetônica caótica de São Paulo, composta por um milhão de prédios sem nenhum horizonte natural visível.


Minha experiência de vida e preferência regional estavam diretamente ligadas a Manaus. Logo percebi que romantizar um lugar específico e degradar outro não me permitia desenvolver um trabalho que se distinguisse de uma simples opinião pessoal. Tentando elaborar um assunto universal, direcionei minha pesquisa a paisagens opostas, naturais e urbanas, usando Manaus e São Paulo como fontes de imagens, indiferente à preferência regional pessoal.


Por mais que Manaus seja uma cidade industrial e tecnológica, ela é cercada pela Floresta Amazônica e banhada pelos rios Negro e Solimões, importantes elementos naturais extremamente presentes na vida das pessoas que lá residem. Assim como a maioria dos habitantes nativos de Manaus, eu nunca tinha dado o menor valor à natureza exuberante presente em minha vida cotidiana até vir morar em São Paulo e perceber o quão extraordinário é viver em uma cidade grande e bem próxima ao ambiente natural. Nas minhas “visitas” a Manaus, durante esses três anos que moro em São Paulo, pude observar a indiferença com que a maioria das pessoas vêem a floresta e os rios ao redor, e como essas pessoas causam a destruição constante desse meio natural, que ocorre em toda cidade grande e em desenvolvimento.


Estudando a idéia de paisagens naturais e urbanas através do desenho, percebi a simplicidade de representar o meio urbano por meio de retângulos e linhas retas, contrapondo a dificuldade de representação de uma floresta sem usar ícones comuns como a folha e a árvore. Nos meus trabalhos de desenho e vídeo, principalmente de vídeo, a proximidade visual com os ambientes naturais é claramente percebida nos ângulos e closes em que as imagens são captadas. Em contraponto, as imagens dos ambientes urbanos são captadas com grandes afastamentos ópticos.


Desde o início da produção dos meus trabalhos de vídeo-instalação, as imagens de água, rios e cachoeiras sempre estiveram presentes, mesmo que eu tenha feito tais imagens de forma aleatória no fim de 2006. Logo nas primeiras reuniões de orientação para o Trabalho de Graduação Integrado no início de 2007, tornou-se explícita a importância da “imagem água” casualmente presente em todos os projetos que apresentei para Regina Johas, que viria a ser minha orientadora. Foi então que somei à minha pesquisa de paisagens este elemento natural repleto de significados que vão desde fluidez, transparências, fluxo e transição à fonte de vida e entidade espiritual.

Textos retirados do meu Trabalho de Graduação Integrado. (Novembro de 2007).

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